sexta-feira, 14 de maio de 2010

FLICT - Meus pequeninos!

Hoje estou colocando na minha Colcha de Retalhos um momento lindo em que pude conviver com meus 'pequeninos' na primeira infância. Algumas quadras de casa e lá iam eles felizes brincar de ser gente grande. Na aula de 'Educação Lúdica' interagia uma vivência comportamental, corporal,  muita alegria e tudo era só uma brincadeira. Dela surgiu uma linda, delicada, fenomenal apresentação. A família inteira presente e os meus 'pequeninos' fizeram bonito. Ela, Pri foi o VERMELHO. Ele, Marquinhos foi o VERRDE!
FLICTS
Era uma vez uma cor muito rara e muito triste que se chamava FLICTS
Não tinha a força do vermelho
Não tinha a imensa luz do amarelo
Nem a paz que tem o azul
Era apenas o frágil e feio e aflito FLICTS
Tudo no mundo tem cor
Tudo no mundo é azul cor-de-rosa ou furta cor
É vermelho ou amarelo
Quase tudo tem seu tom roxo violeta ou lilás
Mas não existe nada no mundo que seja FLICTS -nem a sua solidão-
FLICTS nunca teve par, um lugarzinho num espaço bicolor (e tricolor muito menos, pois três sempre foi demais).
Não existe no mundo nada que seja "FLICTS”.
Na escola a caixa de lápis de cor de colorir paisagem casinha e cerca e telhado árvore e flor.
E caminho laço e ciranda e fita.
Não tem lugar para flicts.
Quando volta à primavera o parque todo e o jardim todo se cobrem de cores
Nenhuma cor ou ninguém quer brincar com o pobre FLICTS
Um dia ele viu no céu depois da chuva cinzenta
A turma toda feliz saindo para o recreio e se chegou para brincar: “-Me deixa ficar na berlinda? Deixa-me ser o cavalinho? Deixa-me ser a cabra-cega? Deixa-me ficar no pique?”
Mas ninguém olhou para ele só disseram frases curtas cada um por sua vez:
- "Sete é um número tão bonito" Disse o Vermelho
- “Não tem lugar para você" Disse a laranja
- “Vai procurar um espelho" Disse o amarelo
- “Somos uma grande família" Disse o verde
- “Temos um nome a zelar” Disse o Azul
- “Não quebre uma tradição" Disse o azul-anil
- ...,”por favor, não vá querer quebrar a ordem natural das coisas" Disse violento o violeta.
E as sete cores se deram as mãos e á roda voltaram.
E voltaram a girar e mais uma vez deixaram o frágil e feio e aflito FLICTS na sua branca solidão
Mas FLICTS não se emendava (e por que se emendar?)
Não era bom ser tão só e um dia foi procurar um trabalho para fazer:
“-Será que eu não posso ter um cantinho ou uma faixa em um escudo ou em brasão em bandeira ou estandarte?"
"-Não há vagas" Falou o Azul
“-Não há vagas" Sussurrou o branco
“-Não há vagas” berrou o vermelho
Mas existem mil bandeiras trabalhando para tanta cor
E FLICTS correu o mundo em busca de seu lugar
E FLICTS correu o mundo: Pelos países mais jovens pelas terras mais distantes pelas terras mais antigas pelos países mais bonitos
Mas nem mesmo as terras mais jovens as bandeiras mais novas
E as bandeiras todas que ainda vão ser criadas se lembraram de flicts
Ou pensaram em FLICTS para ser a sua cor
Não tinham para ele uma estrela uma faixa uma inscrição.
Nada no mundo é "FLICTS" ou pelo menos quer ser o céu, por exemplo, é azul
É todo do azul o mar “mas quem sabe o mar quem sabe?" pensa FLICTS agitado.
O mar é tão inconstante é cinzento se o dia é cinzento como um imenso lago de chumbo e muda com o sol ou a chuva Negro salgado ou vermelho. O mar é tão inconstante tem tantas cores o mar.
Mas para o pobre do FLICTS suas cores não dão lugar
E o pobre FLICTS procura alguém para ser seu par um companheiro um amigo um irmão completar em cada praça e jardim em cada rua e esquina:
“-Eu posso ser seu amigo?”
“Não", avisa o vermelho "
“Espera” o amarelo diz
"Vai embora" manda o verde
E mais uma vez sozinho o pobre FLICTS se vai
UM DIA FLICTS PAROU
E parou de procurar
Olhou para longe bem longe e foi subindo...
E foi ficando tão longe e foi subindo e sumindo...
E foi sumindo sumiu!
Sumiu que o olhar mais agudo não podia adivinhar para onde tinha ido.
Para onde tinha fugido...
Em que lugar se escondia o frágil e feio e aflito FLICTS
E hoje com o dia claro mesmo com o sol muito alto...
Quando a lua vem de dia brigar com o brilho do sol a lua é azul...
Quando a lua aparece nos fins das tardes de outono...
Do outro lado do mar como uma bola de fogo ela é redonda e vermelha...
E nas noites muito claras quando a noite é toda dela...
A lua é de prata e ouro...
Enorme bola amarela!
MAS NINGUEM SABE A VERDADE (a não serem os astronautas) que bem de perto de pertinho a lua é FLICTS..
FIM
Flicts, a história das cores, é um texto escrito por Ziraldo, no ano que o homem pisou pela primeira vez na lua. O texto é baseado na literatura brasileira infantil. O mundo é feito de cores, mas nenhuma é Flicts. Uma cor rara, frágil, triste, que procurou em vão por um amigo. Flicts aborda, de maneira lúdica, conceitos como perseverança e aceitação das diferenças e sentimentos de medo, solidão e estranhamento.



Obrigada Amado Ziraldo! Meus 'pequeninos' foram felizes, proporcionaram momentos únicos debaixo de muita alegria com o FLICT!

Com amor e carinho,
Sílvia